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Estudo da Nasa revela que o mundo está ficando sem suas principais fontes de água

Nas últimas décadas, os grandes aquíferos praticamente inacessíveis começaram a ser usados para suprir diversas necessidades, desde irrigação de plantações até mitigação da sede de uma população crescente. O problema é que em muitos lugares, especialmente em algumas das regiões mais áridas do planeta, o ritmo de retirada de água é bem superior à sua reposição natural. Assim, estas fontes estão começando a secar, colocando em risco a segurança hídrica, e consequentemente a sobrevivência, de bilhões de pessoas.

É o que mostra um estudo que mediu variações no volume de água que estaria guardado nos 37 maiores sistemas da Terra entre 2003 e 2013, com base em dados colhidos por satélites da missão espacial Grace, da Nasa. De acordo com o levantamento inédito divulgado pelo jornal O Globo, nada menos que 21 destes sistemas passaram do nível sustentável, isto é, parecem ter perdido mais água do que foram recarregados neste período. E em 13 destes, ou seja, mais de um terço do total, a diferença entre a retirada e reposição de água seria tamanha que eles foram classificados como sob grande “estresse”. Um segundo estudo que acompanha o primeiro também mostra que não existem dados suficientes para calcular qual o real tamanho destes depósitos subterrâneos de água, o que torna impossível saber exatamente quando e se eles vão se esgotar de fato.

Os sistemas aquíferos sob maior estresse no mundo são o da Arábia, que fornece água para mais de 60 milhões de pessoas na Península Arábica; o da Bacia do Rio Indo, entre o Noroeste da Índia e o Paquistão, com uma população de alcança centenas de milhões de pessoas; e o da Bacia Murzuk-Djado, no Norte da África , todos localizados em regiões das mais áridas do planeta, destaca a reportagem de O Globo.

Outro exemplo do uso descontrolado e excessivo destas reservas subterrâneas de água está na Califórnia. Essa região árida dos EUA enfrenta uma das maiores secas de sua história, o que levou a um forte aumento na retirada de água de suas reservas subterrâneas tanto para suprir a sua grande população quanto para sua agricultura.

Sobre o Brasil

As bacias da Amazônia e do Maranhão, que incluem o grande aquífero confinado de Alter do Chão, parecem ter ganho volume entre 2003 e 2013, enquanto no também confinado aquífero Guarani, um dos maiores do tipo na Terra e que se estende para além das fronteiras do país, a redução do volume teria sido mínima no período. Mas esta situação pode piorar drasticamente caso prospere a ideia de usar a água do Guarani para enfrentar a crise hídrica provocada pela seca dos últimos anos na Região Sudeste, em especial em São Paulo, onde o sistema de abastecimento por águas superficiais, como o Cantareira, está à beira do colapso.
O Brasil tem muita disponibilidade de água superficial, então o esgotamento dos aquíferos subterrâneos não é um problema que o país teria que encarar em breve, avalia o hidrólogo brasileiro Augusto Getirana, pesquisador da Universidade de Maryland e do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa, ambos nos EUA. No longo prazo, porém, grandes mudanças climáticas que afetassem a disponibilidade desta água superficial, como na atual seca no Sudeste, podem fazer do uso das reservas subterrâneas de água uma questão importante.

Fonte: O Globo, 17/06/2015