A ocorrência de chuvas abaixo da média histórica e a persistente estiagem que atinge a Região Nordeste, situação que exige o acionamento constante das usinas térmicas – mais caras –, têm gerado um efeito cascata em toda a indústria, com potencial impacto sobre o ritmo da recuperação da economia, informa reportagem do Estadão. O setor elétrico pode ser um entrave à retomada econômica, embora a cúpula do setor elétrico garanta que, mesmo com o crescimento do PIB em 3%, não há risco de desabastecimento de energia no País, tanto por conta do potencial do parque instalado quanto das novas turbinas que entrarão em operação nos próximos meses. O preço da energia, que costuma ser um dos principais insumos para muitos setores, ameaça a velocidade da retomada estimada pelo governo.
Os dados do IBGE confirmam a escalada de preços. Entre janeiro e setembro, enquanto a inflação acumula alta de 1,78%, o aumento da conta de luz já acumula alta de 5,8%. Em 2016, o preço da energia deu uma trégua e chegou a cair 10,66%, ante uma inflação de 6,29%, mas ainda assim não conseguiu equalizar os estragos do ano anterior, quando o preço disparou e a conta subiu 51%, ante uma inflação de 10,67%.
O cenário permanece crítico porque, mesmo que as chuvas de dezembro a março registrem um bom volume, não serão suficientes para restabelecer volumes razoáveis de água nos maiores reservatórios do País, como Sobradinho (Bahia), Serra da Mesa (Goiás), Três Marias e Furnas (Minas Gerais), que operam hoje com níveis mínimos históricos para essa época do ano.
A indústria eletrointensiva é uma das mais afetadas pelo aumento do custo da energia. Em entrevista ao Estadão, o superintendente da Associação Brasileira da Indústria do Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, disse que a falta de chuvas não é o único problema, destacando que os subsídios embutidos na conta de luz e as indenizações devidas a transmissoras de energia encarecem o insumo. A situação tem levado alguns setores da indústria a cogitar até a possibilidade de vender sua energia e deixar de produzir.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia, Edvaldo Alves de Santana, a reforma do setor elétrico proposta pelo governo é uma forma de lidar com esses problemas. “A questão é que essa reforma é de difícil implementação e terá efeito no longo prazo, enquanto alguns problemas são urgentes e não podem esperar pelo amanhã.”
Fonte: Estadão.com.br, edição de 3 de novembro.