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Semana Internacional da Água de Amsterdam aponta relação entre mudanças climáticas e o fornecimento de água para todos

Líderes globais, urbanistas, agentes de serviços públicos e cientistas elaboraram documento que foi entregue à organização da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26).

Em todo o planeta, há 3,6 bilhões de pessoas com acesso insuficiente à água potável por pelo menos um mês por ano, segundo estimativas da Water and Climate Coalition (WCC), iniciativa que oferece uma plataforma com dados para uma abordagem integrada sobre água e clima. O trabalho reúne informações, sistemas de monitoramento e capacidade operacional para ações localizadas.

De acordo com as projeções da WCC, o número de pessoas sujeitas a esse tipo de restrição deverá subir para 5 bilhões até 2050, em parte como resultado das mudanças climáticas. Durante a Semana Internacional da Água de Amsterdam (Amsterdam International Water Week – AIWW), diversos líderes mundiais endossaram um documento que alerta para tais prospectos e o encaminhamento para um dos painéis da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26).

Os membros da WCC, incluindo a ministra de Infraestrutura e Gestão da Água da Holanda, Barbara Visser, participaram de uma transmissão ao vivo (02/11) como parte da conferência climática da ONU, realizada em Glasgow, na Escócia. “Sem os dados corretos, as políticas de clima e água serão apenas palavras vazias”, disse János Áder, presidente húngaro, para enfatizar a importância do relatório entregue.

“As mudanças climáticas estão colocando em risco a paz, a segurança, a biodiversidade e o desenvolvimento sustentável global. A preservação das fontes de água é uma das chaves para realizar mudanças reais e alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), da ONU”, apontou Henk Ovink, enviado do governo holandês à ONU e especialista em inundações.

As sessões online da AIWW alcançaram mais de 1.300 visitantes de cerca de 50 nacionalidades, com uma combinação de salas virtuais de pesquisa e inovação. O tema geral desta edição do evento foi “blue-green para soluções integradas”. Esse tipo de aplicação tem como exemplo mais conhecido os telhados que combinam tecnologias convencionais de drenagem com tecnologias aumentam o volume de água armazenado e controlam a quantidade liberada.

A Semana Internacional da Água de Amsterdam é um evento bienal realizado na capital holandesa para reunir líderes globais, urbanistas, agentes de serviços públicos e cientistas. O objetivo é discutir novas soluções para garantir o fornecimento de água limpa para populações vulneráveis de todas as regiões do planeta, preservar a qualidade e sustentabilidade de rios, nascentes e lençóis freáticos, e promover a universalização dos serviços de saneamento básico.

Os acordos da Semana Internacional da Água de Amsterdam

Introduzidos em 2017, os acordos de Amsterdam são divididos em quatro eixos de ação: resiliência, rios potáveis, serviços de água e ações de valor agregado. O objetivo das parcerias é estimular a cooperação internacional entre cidades, indústrias, empresas de água e instituições financeiras.

No primeiro eixo, resiliência, destaque para as cidades europeias que se comprometeram em ampliar as suas redes de telhados “azuis-verdes inteligentes”. Esse tipo de cobertura une o conceito de telhado verde, com áreas permeáveis de jardim, e de telhado azul, com estrutura de coleta, armazenagem e controle de vazão; os objetivos são combater as inundações, promover meios seguros de captação e reuso da água das chuvas e ampliar as áreas verdes das cidades. “Os participantes estão trabalhando para expandir e melhorar o conceito de telhados azul-esverdeados. Amsterdã tem exemplos práticos disso e outras cidades estão adotando essas estruturas”, contou Kees Van der Lugt, diretor de programação da AIWW.

O acordo sobre rios potáveis conta com a adesão de mandatários das cidades por onde passa o Rio Mosa, um dos mais longos da Europa, cortando Bélgica, França e Holanda. Os prefeitos fizeram uma rodada de revisão dos avanços e estão listando as ações que podem realizar em seu próprio município e coletivamente. A qualidade da água do rio é monitorada por crianças que recebem treinamento para isso, numa inciativa que também promove educação ambiental.

Durante esse segmento do evento, foi realizada uma mesa redonda onde Paris e Amsterdam se juntaram para tratar da coordenação de esforços em favor da potabilidade do Rio Sena. “Paris vai receber as Olimpíadas de 2024 e quer ter certeza de que o Sena estará limpo o suficiente para a natação. A cidade luz pode aprender com as experiências aplicadas no Rio Mosa e com o projeto Amsterdam City Swim”, explicou Van der Lugt.

Uma novidade promete ampliar o alcance dos acordos da Semana Internacional da Água de Amsterdam: concessionárias de serviços de água e esgoto passarão a coordenar ações multilateralmente. As empresas que cobrem as redes de distribuição, coleta e tratamento em Berlim, Copenhague, Nova York, Paris e Cingapura trocavam experiências bilateralmente, o que mudou para um regime multilateral de comunicação.

No quarto eixo de acordos – ações de valor agregado – a organização da AIWW vai coordenar a cooperação entre universidades e empresas de Amsterdam com Cidade do Cabo
(África do Sul) e Jacarta (Indonésia). O projeto consiste em reunir histórias e inovações relacionadas à água potável e ao saneamento básico para promover uma cultura local de valorização desses elementos e tentar levar a ações concretas.

A Semana da Água no Brasil

Duas capitais brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, também realizam suas edições bienais de semanas voltadas para debater temas ligados à água. Com a mesma periodicidade, há ainda um evento nacional, cuja última edição ocorreu em outubro de 2020. Na ocasião, durante cinco dias, por meio de videoconferências, a Semana da Água no Brasil reuniu representantes de 16 países para discutir políticas públicas e o papel de empresas e organizações para alcançar o sexto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ODS 6): Água e Esgoto para todos até 2030.

Um dos últimos painéis de debates colocou em pauta a criação e articulação de mecanismos de regulação dedicados a enfrentar crises provocadas pela escassez de água. O papel das agências reguladoras e dos prestadores de serviços de saneamento básico teve destaque, com a apresentação de casos de melhores práticas nacionais e internacionais, como projetos para a redução de perdas reais, durante tratamento e distribuição de água.