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A importância da coleta de esgoto para o futuro da vigilância epidemiológica

Durante a pandemia de Covid-19, a análise de amostras coletadas no esgoto resultou em dados importantes para a acompanhar a evolução da doença

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) apresentou (17/02) os resultados do estudo Rede de Monitoramento Covid Esgotos. Conduzido pela Agência, o projeto mapeia as concentrações do novo coronavírus (SARS-CoV-2) em amostras de esgoto de cinco capitais: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro.

A organização dos dados obtidos e a comparação com outras ferramentas de monitoramento utilizadas durante a pandemia revelou que a detecção do novo coronavírus pela rede de esgotos se dava dias. Assim, os primeiro resultados apontam que a amplificação e a consolidação desse tipo de ação coordenada podem mudar sensivelmente a velocidade e precisão das ações epidemiológicas para Covid-19 e outros vírus detectáveis em dejetos humanos.

O diretor-presidente da ANA, Vitor Saback, sugere que a rede de monitoramento criada nessas cinco cidades deve ser percebida como um “embrião de um programa ligado ao Programa Nacional de Vigilância Epidemiológica com base nas coletas de esgoto em todo o País”.

Desafios sobrepostos

Nacionalizar um programa de coleta e análise epidemiológica de amostras de esgoto é um projeto que demandará ações para viabilizar a estrutura própria e, logicamente, a universalização do serviço de esgotamento sanitário.

No primeiro caso, há complexidade logística para proceder a coleta e o armazenamento das amostras para, na sequência, encaminhá-las para os laboratórios de análises. Em inúmeras localidades do País, a distância a percorrer até o laboratório irá impor a aquisição de equipamentos próprios para que o transporte se dê sem a contaminação do material coletado, o que comprometeria a fidelidade dos resultados.

O desafio que se acrescenta à organização adequada de um programa como esse é a carência na oferta de redes de coleta de esgoto, o que poderia limitar o alcance e a eficácia do projeto. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2020, o serviço de coleta de esgoto alcançou 55% da população (leia mais).

Uma tendência global

A perspectiva de monitoramento epidemiológico por meio da análise de amostras de esgoto não é restrita à iniciativa brasileira ou à atual pandemia de Covid-19.

Na Holanda, esse tipo de ação voltada para o monitoramento do SARS-CoV-2 é feito com amostras coletadas em mais de 300 Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), em todo o País. Segundo o Instituto Nacional para Saúde Pública e Meio Ambiente, o trabalho possibilitou acompanhar a evolução da pandemia num grupo populacional de cerca de 17 milhões de pessoas.

O governo holandês planeja manter o programa e redesenhá-lo para ampliar o monitoramento epidemiológico, acrescentando a busca por outros vírus. Além disso, o trabalho transcenderá o plano da epidemiologia e agregará novas variáveis importantes para o direcionamento de políticas de saúde pública. A análise do esgoto também pode oferecer informações sobre diabetes, determinados tipos de câncer, uso de medicamentos e drogas, micro plásticos e pesticidas.